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Maçonaria no Feminino - Carolina Beatriz Ângelo

800px-Carolina_Beatriz_Ângelo.jpgCarolina Beatriz Ângelo (1878-1911), nasceu na Guarda e foi criada num ambiente liberal graças à actividade jornalística do pai e do avô. Simpatizantes do Partido Progressista, permitiram a Carolina terminar os seus estudos secundários e fixar residência em Lisboa para se formar em Medicina, curso que concluiu em 1902, especializando-se em Ginecologia. Acabou por se tornar a primeira cirurgiã em Portugal e a primeira a operar no Hospital de S. José, em Lisboa, sob a orientação de Sabino Teixeira Coelho e, posteriomente, sob a tutela de Miguel Bombarda.

 

Em 1906 abraçou o Pacifismo aderindo ao Comité Português da associação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes; esteve na formação do Grupo Português de Estudos Feministas entre 1907-1908; tornou-se militante da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908-1911) e, dando ênfase ao seu sufragismo, fundou com Ana de Castro Osório, a Associação de Propaganda Feminista

 

Em 1907, já claramente conotada com os círculos republicanos de Lisboa, Carolina Beatriz Ângelo, foi iniciada na Loja Humanidade da qual viria a ser Venerável Mestre. Junto a outras companheiras de luta, formou o quarteto de liderança desta ala feminina da Maçonaria em Portugal, grupo que veio a assumir-se como elite de um certo feminismo republicano, nem sempre encontrando eco no republicanismo português dominado por homens com pouca sensibilidade para as reivindicações feministas, à época em pleno desenvolvimento não só em Portugal mas um pouco por todo o mundo ocidental.

 

Carolina_Beatriz_Ângelo_e_Ana_de_Castro_Osório.jpg

Foi uma das mulheres cuja ação e testemunho a tornou numa das figuras indelevelmente associadas à história da República. Conjuntamente com a  Adelaide Cabete, costurou as bandeiras hasteadas durante o 5 de Outubro de 1910.  Com o surgimento da Iª República, transformou-se numa das maiores vozes do sufrágio feminino e protagonizou um dos momentos mais emblemáticos da história das eleições em Portugal. Numa época em que apenas os cidadãos portugueses, com mais de 21 anos, alfabetos e chefes de família podiam votar, recorreu a tribunal argumentando que a lei não excluía expressamente as mulheres.

 A 28 de abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro, pai de Ana de Castro Osório e de Alberto Osório de Castro, proferiu a sentença que ficaria para a História e se tornaria o marco para um direito hoje consagrado a todos:

«Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral».

Tornou-se assim, a primeira mulher a votar no nosso país no dia 28 de Maio de 1911, acto que mereceu a cobertura de jornais de toda a Europa, admirados pela coragem e aparente rumo progressista da recém-criada República Portuguesa. 

Morreu prematuramente aos 33 anos, cinco meses após exercer o seu direito de voto.