O INÍCIO
“… faz parte da natureza do Homem interrogar-se sobre as origens da vida, o seu sentido, ou do existe para lá do véu da morte, que nos separa de tudo o que conhecemos.”, Pedro Rangel, Patriarca Grande Conservador do Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraïm in [1]
De onde vem afinal a Maçonaria, organização sempre envolta em mistério, dando azo às mais variadas especulações sobre os seus fins e atividades, mas que tem contado com figuras proeminentes nas suas fileiras, incluindo monarcas, presidentes da República, membros do clero, leigos e crentes, poetas e cientistas e se encontra disseminada pelos quatro cantos do planeta?
É possível encontrar paralelismos entre os costumes e construções arquitetónicas pré-históricas e de antigas civilizações, como a grega, romana ou a egípcia, e a Maçonaria, embora os registos históricos sejam, frequentemente, escassos, imprecisos ou mesmo inexistentes [2]. Não obstante, é importante compreender as reminiscências da Antiguidade que vão moldar a Maçonaria Universal referindo-se que as primeiras construções de natureza simbólica que o Homem realizou ocorreram cerca do quinto milénio A.C., estando o processo de desenvolvimento da construção e arquitetura indissoluvelmente ligado ao transcendente e à linguagem simbólica, sabendo-se que, desde os povos do mediterrâneo às civilizações asiáticas, todos dispunham de construtores de templos.
Sabemos que no antigo Egito, existiam corporações de pedreiros, a quem competia a construção de templos e moradas eternas dos faraós. Eram organizações que detinham conhecimentos ligados à arquitetura e à matemática, sendo interditas a quem não pertencesse à corporação [1].
Com o crescente domínio de Roma, as associações profissionais adquiriram uma relevância enorme, o que lhes terá conferido uma importância similar à dos atuais sindicatos. Os Romanos assimilaram e universalizaram a cultura e a arte da Grécia, estando as relações entre dionisiarcas e as corporações de arquitetos romanos historicamente comprovadas. Em 714 A.C. o Rei Numa Pompílio criou os collegia artificum, em cujo vértice organizacional estavam as
agremiações de arquitetos, os collegia fabrorum cujas reuniões decorriam de forma fechada e com exclusão dos homens que não eram membros. Os novos membros eram iniciados nos segredos necessários ao ofício da construção e mostravam-se os sinais particulares de cada grémio. Estas associações tinham o privilégio de estabelecer os seus estatutos, jurisdição particular e imunidade em matéria de contribuições, o que veio a influenciar a prática seguida para as corporações de construtores da Idade Média.
Os conhecimentos dos collegia passaram a ser indispensáveis sempre que se pretendia construir uma nova cidade, um novo templo, etc. É, pois, natural, que estas corporações tenham influenciado bastante as regiões onde o Império Romano governou e que os seus símbolos e conhecimentos tenham chegado às zonas mais remotas do Império, desde a Península Ibérica até à Síria, do Norte da Europa até às regiões do Próximo Oriente e do Norte de África.
O embrião da Maçonaria estava em desenvolvimento e os collegia sobreviveram até à queda do império romano, embora as invasões barbaras tenham reduzido o seu vigor. Com a expansão do Cristianismo, por volta do seculo VII D.C., as corporações de construtores ganharam de novo relevância, dado que estes dominavam os conhecimentos necessários à construção dos templos, segundo os preceitos romanos.
Contudo, só a partir do sec. XI, se pode afirmar que os construtores operativos, a que mais tarde se viria a chamar Maçons se começaram a organizar em grupos ou confrarias, económica e administrativamente independentes dos mosteiros, e de outras instituições eclesiásticas. Estas guildas beneficiavam de certas prerrogativas como a dispensa do controlo real ou municipal, o que levava a que, aqueles que conseguiam alcançar o estatuto de mestres, fossem considerados livres [2].
Estavam lançados os pilares da Maçonaria Operativa!
N.'.
R.'.L.'. Ísis
Fevereiro 2023
Referências
[1] |
A. M. Santos, A Maçonaria em Portugal - O Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraim, 2ª edição ed., Lisboa: Instituto Maçónico de Portugal, 2017. |
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[2] |
M. Martín-Albo, A Maçonaria Universal - Uma Irmandade de Carácter Secreto, 4ª edição ed., Lisboa: Bertrand Editora, 2012. |
[3] |
A. Arnaut, Introdução à Maçonaria, Imprensa da Universidade de Coimbra ed., Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017. |