Da Maçonaria Operativa à Maçonaria Especulativa

A Maçonaria, dita operativa, pode considerar-se ligada aos construtores de templos e catedrais da alta idade média, estando na origem da designação “pedreiros-livres” ou “Franco-Maçons” pelos privilégios que estes detinham, não sendo, contudo, nem membros do clero nem da nobreza.

Durante os séculos XII e XIII ocorreram grandes mudanças na sociedade ocidental, tendo-se verificado o surgimento de uma nova classe social, a burguesia, o que originou o renascimento das cidades. Em conjunto com a expansão da Igreja Católica estes factos vieram concorrer para o despertar de uma nova necessidade: um novo modelo arquitetónico religioso – A Catedral. [1].

Com o Grande Cisma do Ocidente, entre 1378 e 1417, a dividir a igreja, a peste negra, que dizimou cerca de 25 milhões de pessoas, i.e., ¼ da população europeia, e o desmoronar do Império Bizantino face ao avanço dos turcos, dá-se uma crise profunda na economia ocidental tendo os grémios e associações entrado em conflito permanente.

Esta disrupção teve consequências decisivas nas correntes do pensamento ocidental. O Renascimento, imbuído do pensamento Humanista e, essencialmente, a Reforma, vieram contribuir definitivamente para uma disrupção do ideal cristão no Ocidente e afetaram grandemente a Maçonaria Operativa pois os ideais renascentistas, inspirados na Antiguidade Clássica, levaram ao afastamento do modelo genuinamente medieval.

A Maçonaria Operativa até então ligada aos ofícios da construção entra em crise e passa a aceitar membros alheios ao ofício e ao estrito ideário maçónico. Em 1691, em Londres, foi criada a Loja de São Paulo, a qual marca, segundo muitos historiadores o nascimento da moderna Maçonaria. Esta Loja veio a decretar que os privilégios maçónicos não seriam património exclusivo dos construtores. Deste modo, qualquer pessoa, ainda que de outra profissão, poderia ser membro de uma Loja, desde que aceitasse a iniciação e as normas nela praticadas, 

A aceitação de membros provenientes de outras profissões não ligadas à construção e, nomeadamente de filósofos ligados ao Racionalismo e ao Iluminismo veio alavancar a transfiguração da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa. O processo de transformação, foi gradual e está alinhado com o próprio processo histórico da cultura ocidental.

Em qualquer caso, considera-se que a institucionalização definitiva da Maçonaria ocorre com a fundação da “Grande Loja de Londres e Westminter” em 24 de junho de 1717. 

Na Grande Loja de Londres foi decidido acabar com o direito de constituir lojas em qualquer local, como se verificava até então, e as sociedades maçónicas passaram a ter de obter a “patente” de constituição outorgada pela Grande Loja de Londres. 

Em 1721, tendo por objetivo reformular de modo mais claro e completo, os princípios e regulamento da Ordem, a Grande Loja de Londres solicita ao Pastor James Anderson que faça uma compilação dos antigos regulamentos e preceitos. Nasce assim o “Livro das Constituições dos Franco-Maçons” que veio a ser publicado em 1723, o qual incluía os Antigos Deveres ou Leis Fundamentais (Old Charges).

Contudo, ao longo dos primeiros anos da nova Grande Loja, houve um grande número de Maçons e certas Lojas que nunca se afiliaram à nova Grande Loja. Esses Maçons não afiliados e suas lojas foram referidos como " Maçons Antigos ", ou " Maçons de São João " e as suas Lojas como "Lojas de São João" tendo criado em 17 julho de 1751 “A Grande Loja dos Antigos”. Apelidaram, de forma pejorativa, a primeira Grande Loja como “Os Modernos”.

Por fim, em 27 de dezembro de 1813, a partir da união da “Grande Loja dos Antigos” e da “Grande Loja de Londres e Westminter” veio a ser constituída a “Grande Loja Unida da Inglaterra” (UGLE) tendo o Duque de Sussex (filho mais novo do Rei George III) como Grão-Mestre. Esta Loja ainda hoje existe e constitui-se como referência da designada Maçonaria regular. [2]. 

 N.'.

Resp.'.Loj.'.Ísis

Fevereiro 2023

Referências