Confúcio, de nome original Kong-Fou-Tzeu, nasceu em 551 a.C., dois séculos depois de Homero e da fundação de Roma, e um século antes de Sócrates, tendo sido contemporâneo de Lao-tzeu, Buda, Zoroastro, Ezequiel, Pitágores e Thales.
Considerado como um dos grandes instrutores da humanidade e como o primeiro “educador” da China, os seus ensinamentos dera origem ao Confucionismo, doutrina política e social que foi eleita como “Religião de Estado” durante a dinastia Han, só tendo sido banida no início do séc. XX.
A sua doutrina preconizava o primado da ordem do Estado e da virtude segundo o princípio da “justiça para o povo, progresso para a instrução e conduta regulada pelo Esquadro e o Compasso”. Estes são de facto alguns dos princípios que nos são transmitidos desde a nossa Iniciação Maçónica.
Passou a maior parte da sua vida na sua província natal situada no Nordeste da China, a cerca de 450km a sul de Pequim. Na sua juventude, participou em rituais religiosos, muito importantes na China daquele tempo. Acreditava que os rituais com música asseguravam o equilíbrio dos indivíduos e da ordem social, resultando na ordem do Universo. A mística da harmonia do mundo e da sociedade serão a base da doutrina do Confucionismo.
Aos 22 anos abre uma escola com um ensino baseado na tradição, afirmando: “Eu não invento nada, só transmito os ensinamentos dos antigos”. Este é também um dos propósitos primordiais da Maçonaria, transmitir o conhecimento que nos é dado pelos mais experientes e conhecedores.
Teve trabalhos administrativos durante longos anos e,só em 501 a.C., já com 50 anos, foi nomeado Ministro da Justiça no seu regresso a Lu. No entanto, deixou essas funções e, durante um periodo de grande agitação, lutas de poder, guerras e desprezo pelos valores fundamentais que defendia, Confúcio iniciou uma fase de exílios, mais ou menos forçados.
Durante 14 anos, fez várias viagens e peregrinações por muitas regiões chinesas, onde foi adquirindo experiencia e conhecimentos que transmitiu aos seus discípulos, e que reforçaram a base da sua doutrina, compilada em 4 Volumes Fundamentais:
- “O Grande Estudo”
- “O Invariável Meio”
- “Citações de Confúcio”
- “Mencius” (escrito pelo seu discípulo Mencius)
Conhecido como “Mestre Kong”, preconizou o respeito pela ordem familiar e pela vida exemplar buscando a “Vontade do Céu”. Sem nunca evocar o nome de Deus, falou numa Ordem Cósmica, conseguida através da evolução pessoal (leia-se a construção do nosso Templo Interior) e do respeito e amor pelos outros (leia-se o nosso Amor Fraternal).
Os seus ensinamentos, apesar de dirigidos maioritariamente à formação de futuros homens de poder, estavam abertos a todos e não só aos filhos dos príncipes. Deve-se a ele a transformação da palavra “Junzi” (“gentilhomme” em francês, ou “gentleman” em inglês) que, antes dele se associava à nobreza de sangue, em nobreza de coração, ou seja, abarcando a noção de Igualdade de todos os homens de bem, tão cara à Franco Maçonaria.
Confúcio recusava a desordem e a falta de ética que reinava na dinastia Chou, preconizando a renovação dos princípios e preceitos dos sábios da Antiguidade. Na sua escola iniciou os seus alunos nos autores antigos da literatura chinesa, realçando o papel fundamental da música e do exemplo de conduta, como bases para a prosperidade dos homens e do mundo. É impossível não vermos as enormes semelhanças com os princípios maçónicos que praticamos.
Se Confúcio foi visto como “O Mestre”, ele considerou-se sempre como um aluno, um eterno Aprendiz, fundando toda a sua dourina na Tradição, tal como nós Maçons de hoje. As fontes principais da sua doutrina foram os Cinco Clássicos Livros Canónicos:
O Livro ou Canon dos Poemas (Shi Jing ou Cheu King) - onde descobre as chaves morais para a elevação do coração, a poesia, a harmonia das palavras, a retórica e a gramática. As nossas Artes Liberais, tão importantes no nosso percurso maçónico.
O Livro ou Memorial dos Deveres e dos Ritos (Li Ji ou Li Ki) - onde está explanada toda a experiencia humana, desde o nascimento até à morte, e descritos os obstáculos e provas a superar pelo homem através dos deveres e virtudes fundamentais: o respeito por si próprio e pelos outros, a fraternidade, a lealdade, a fidelidade, a diligencia e a caridade. Os ritos ajudam a moderar a conduta, a medir os gestos, a controlar os instintos, a travar os preconceitos, dando um valor espiritual e moral à vida humana. Estes ensinamentos são em tudo semelhantes ao nosso conturbado mas recompensador percurso maçónico.
O Livro das Mutações (Yi Jing ou Yi King) – onde se fala da dualidade omnipresente na nossa vida: o branco e o negro do nosso pavimento mosaico, o espírito e a matéria, o ying e o yang, o ativo e o passivo, o masculino e o feminino, a Lua e o Sol, a luz e a sombra, todos este símbolos maçónicos.
O Livro ou Canon da História (Shù Jing ou Chou King) – que expõem as vias escolhidas pelos antigos como exemplos de rigor e devoção aliados a uma certa mitologia. Segundo o Mestre, os Homens de Bem possuíam abertura de espírito e de coração, abrindo-se a si mesmos e aos outros, atingindo assim a virtude suprema. Apontou como exemplos Yao e Shun, príncipes que deram valor ao mérito em detrimento da hereditariedade, e Yu o Grande pela sua total devoção ao povo chinês.
O Livro ou Canon da Música (livro perdido) - a música como exaltação dos sentidos, ritmo e vibração, meio de comunicação entre o mundo sensível e o intangível, essencial nos nossos rituais maçónicos.
Os ensinamentos destes livros serviram ao Mestre para passar a sua mensagem, não textualmente, mas adaptados às necessidades da época em que viveu. Da mesma forma, os textos da Bíblia que lemos nas nossas Sessões, não podem ser interpretados à letra, assim como os textos das Old Charges ou das Constituições de Anderson. Segundo Confúcio: “O bom Mestre é aquele que descobre o que há de novo nas tradições antigas”.
Segundo as palavras de Oswald Wirth:
“a razão não se contenta em recusar o erro e o preconceito e em constatar a virtude da verdade, mas também em prestar homenagem aos antigos pensadores, adaptando as ancestrais tradições ao mundo atual”.
O Confucionismo, exaltando o ideal da vida humana como uma série de atos segundo os quais o homem atinge uma conversão, uma mudança profunda do seu olhar sobre o mundo profano, voltando-se para si mesmo para descobrir a Luz que existe dentro de si, a nossa “Centelha Divina”, responde bem à definição da filosofia iniciática da Maçonaria.
A abrangência da sua doutrina está bem patente nas seguintes palavras:
“Quando a vontade é sincera, os movimentos do coração estão serenados. Quando as pulsões do coração estão tranquilas, o homem sente-se livre de todos os defeitos, a vida pessoal é perfeita e a vida familiar está regulada. Tendo a vida familiar regulada, a ordem persiste na vida nacional, reinando assim a Paz Mundial.”. Eu acrescentaria, transpondo para a nossa vida Maçónica, o Templo Universal está construído.
E termino com duas das suas mais importantes citações, que todos nós já tantas vezes ouvimos:
“Ama os outros como a ti mesmo”.
“Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem”.
Serkhet
Setembro 2020