Abel Pinheiro e Rui Gomes da Silva ficaram indignados com José Sócrates: o novo Governo do PS afaste a maçonaria do poder. O maçon Rui Silva Pereira também aparece nas escutas.
A 6 de Março de 2006, seis dias antes de o novo Governo Socialista tomar posse, Abel Pinheiro, o homem das finanças do CDS-PP, pegou no telemóvel e ligou ao social-democrata Rui Gomes da Silva, “o Maçon adormecido” que acabara de deixar o cargo de ministro dos assuntos Parlamentares.
Em plena investigação do processo Portucale (um caso de alegado tráfico de influências para a aprovação de um projecto imobiliário do grupo Espírito Santo), a conversa passou pela maçonaria e pelo seu poder. Abel Pinheiro e Gomes da Silva concordavam que os maçons estavam sob fogo cerrado de José Sócrates. O futuro primeiro ministro era acusado de afrontar a irmandade do Grande Oriente Lusitano (GOL) ao não acolher nenhum maçon para o Governo.
Abel Pinheiro e Rui Gomes da Silva defendiam que as nomeações para ministro teriam de respeitar uma espécie de quota maçónica. E estavam indignados por Sócrates não seguir o jogo de bastidores, afastando a maçonaria (e também o Opus Dei) dos lugares de decisão politica. Também diziam que a ausência de apoio maçónico iria deixar vulnerável o futuro Governo. Os dois homens falavam dos nomes de muitos socialistas preteridos, como José Lello ou Vitalino Canas, e comentaram os futuros ministros de Sócrates – a maior parte de forma pouco abonatória, segundo Abel Pinheiro, o irmão Jorge Coelho, com quem disse ter falado por causa de vários assuntos pendentes do Governo PSD/CDS (que não especifica), andaria de cabeça perdida com as escolhas. Mas já teria garantido que iria impedir que António José Seguro chegasse a líder parlamentar do PS.
Questionado pelo SÁBADO, Jorge Coelho assegura que nunca fez favores maçónicos ou não, a Abel Pinheiro relacionados com negócios aprovados pelo Governo PSD/CDS. “Ele nunca me pediu nada, nem em 2005, nem noutra ocasião qualquer”, diz.
Quanto ás várias citações que Abel Pinheiro lhe atribuiu nas escutas telefónicas, Coelho não tem duvidas: “Ele fala do que sabe e do que não sabe”.
A LOJA MAÇÓNICA de Abel Pinheiro, a Convergência, sempre foi vista como uma das mais poderosas dentro do GOL. Antes das batalhas internas e da cisão, ocorrida em Julho de 2006, a Convergência chegou a juntar figuras ligadas ao PS, como o presidente do Tribunal Constitucional, Nunes de Almeida, António Vitorino, Vitalino Canas, Rui Pereira e José Nuno Martins.
O próprio Abel Pinheiro, que juntamente com Rui Pereira saiu para fundar a loja Luís Nunes de Almeida (em homenagem ao antigo venerável falecido em Setembro de 2004), chegou a referir nas escutas que, durante os governos de António Guterres, a Convergência era conhecida como o Gabinete.
A SÁBADO não conseguiu apurar quais os outros membros que passaram pela Convergência, mas os Governos de Guterres contaram com muitos maçons, como os ministros João Cravinho e Jorge Coelho e os secretários de Estado Rui Pereira, Fausto Correia, Ricardo Sá Fernandes, Carlos Zorrinho, José Miguel Boquinhas e Leonor Coutinho (maçonaria feminina).
Umas das referências ao Gabinete aparece na conversa que Abel Pinheiro teve, a 3 de Março de 2005, com o advogado Corrèa Mendes, do escritório Corrèa Mendes e Associados. O advogado, que tinha apresentado o seu atestado de quite (documento que solicita a saída), queria regressar ao GOL e precisava dos bons ofícios do amigo. Este prometeu-lhe apressar o reingresso.
NAS ESCUTAS TELEFÓNICAS gravadas no processo Portucale são muitas as referências à Maçonaria, com Abel Pinheiro a citar os “irmãos” Bueno de Matos (na altura acessor de imprensa do Tribunal Constitucional, ou Jorge Sá, professor universitário especialista em sondagens.
Abel Pinheiro tinha, de resto, ideias muito definidas sobre o que julgava ser o poder da Maçonaria em Portugal. Isso constata-se noutra conversa telefónica, em Maio de 2005, com o “irmão” Rui Pereira, actual ministro da Administração Interna. Durante a discussão sobre as eleições para grão mestre do GOL, a mais importante corrente maçónica portuguesa, que iriam realizar-se no mês seguinte, Abel Pinheiro não hesitou em criticar a acção do grão-mestre cessante, António Arnaut. Defendia que Arnaut, um ex-ministro da Saúde do PS, estava sedento de honrarias publicas para o GOL (aspecto que Rui Pereira via também como protagonismo saloio) quando tinha era de recusar as condecorações, porque o GOL é que deveria conferir, na sombra, dignidade e honrarias.
De resto, dizia, era isso que sempre tinha acontecido ao longo dos tempos, uma vez que pelo GOL já haviam passado centenas de políticos, vários primeiros ministros e Presidentes da Republica. Mas Abel Pinheiro e Rui Pereira achavam que Arnaut estava velho para a tarefa de restituir ao GOL a força de outros tempos.
Para os dois, o novo homem era outro socialista, o ex-deputado do PS e professor universitário António Reis. Era nele que iriam votar (Reis foi eleito grão-mestre) apesar de pertencerem à loja onde era venerável outro candidato, o arquitecto Luís Conceição. Mas os dois viram com desdém a candidatura de Conceição e até combinaram que iriam exercer pressão para que não avançasse. Umas das razões para a oposição á candidatura passava por um alegado favor que o candidato a grão-mestre teria pedido a Abel Pinheiro – seria um aumento de mil euros mensais que Luís Conceição (arquitecto na Câmara Municipal de Lisboa, com quem a SÁBADO não conseguiu falar após o fecho da edição) queria para resolver problemas pessoais. No entender de Abel Pinheiro, alguém que precisava deste montante para viver não teria nível para dirigir a maçonaria.
AS ESCUTAS do processo Portucale referem o almoço do 49º aniversário de Rui Pereira, actual ministro da Administração Interna. A 25 de Março de 2005, Abel Pinheiro relatou o almoço a Paulo Portas, dizendo que Pereira que fora director do SIS, tinha reunido a nada dos serviço secretos. E que tinha ouvido que a CIA os informara de que João Paulo II morreria na semana seguinte. O Papa faleceu a 2 de Abril. Rui Pereira nega tudo à SÁBADO.